O Dublanet por meio do Coordenador Reinaldo fez uma entrevista exclusiva
com o dublador paulista Franscisco Brêtas que dubla entre tantos
personagens o Hyoga de Cisne do anime "Os Cavaleiros do Zodíaco"!
Confira!
Como
você se tornou dublador?
Em 1987, eu já trabalhava como
ator há mais de dez anos, resolvi por sugestão de Eduardo Camarão, com
quem já havia trabalhado em teatro, visitar a Àlamo, para fazer um
estágio com Nair Silva, que dirigia lá então. Depois de três meses
assistindo diariamente, as produções daquele estúdio, Nair me colocou
pra dublar uma cena super difícil de um filme que contava a vida de duas
críticas de cinema da Hollywood dos anos 30 e 40, uma delas se chamava
Louella Parson(??) e eu fazia o filho dela. Nair gostou do resultado e
me apresentou à seu marido, Líbero Miguel (famoso tanto por dar chances
aos iniciantes na carreira, como por nunca esquecer velhos companheiros
de rádio teatro e televisão, que já estavam aposentados)Fui convidado
para fazer, logo de cara, "Os Flashmans", no papel de Din ou REd Flash;
os heróis eram feitos por jovens atores e os vilões, magníficamente
interpretados por atores mais experientes e consagrados em rádio. Dr
Kéflen por exemplo foi dublado por Gastão Malta, um dos "grandes" do
rádio teatro, tanto que chegou a ter um programa onde ele era o herói
absoluto, gerando suspiros e admirações de uma grande legião de fãs, em
uma época em que toda familia brasileira acompanhava com grande
interesse, os capítulos diários das famosas rádio novelas, que fizeram a
glória de muitas emissoras como a Radio Nacional e a Radio São Paulo.
Além de Gastão Malta, tínhamos tbem: Deise Celeste(Néfer) Sonia Regina,
Nair Silva (O robozinho Mag), Líbero Miguel ( Monarca La Deus) Marcos
Lander (Wandar), entre outras "feras".
Você se recorda
dos seus primeiros trabalhos? cite alguns recentes.
Então,
como primeiro trabalho houve Flashmans, Google Five, Maskman (sempre
fazendo os "vermelhos": Red Google, Red Mask, etc). Fiz tbem Retsuga em
Jiraya, Seishi em Giban ao lado de Carlos Laranjeira que já havia feito
Flashman comigo, Shadow Moon em Black Kamen Rider, Lion Man, etc.
Trabalhos mais recentes, fiz Pequena Miss Sunshine, O Libertino, Camisa
de Força, Sideways, Brokeback Mountain, Robbie Rotten em Lazytown, O
Crítico, a série "O Aprendiz", etc.
Quais os personagens
que você mais gostou de fazer?
Adorei fazer Hyoga de CDZ,
Pompadour de Babar; Jack Twist de Brokeback Mountain; Agrado de "Tudo
sobre a minha mãe" de Pedro Almodovar; Gary Oldman em Sangue de Romeu;
Tim Robins em "O Jogador" de Robert Altman, Jim Carrey em "O Mentiroso e
por aí vai.
Ao longo dos anos temos perdido grandes
dubladores, como é a sensação de ter trabalhado com muitos mestres e
pelo acaso ter que viver das boas lembranças com eles?
De
todos os grande atores com quem trabalhei sempre aprendi alguma coisa e
ainda hoje aprendo. Quando comecei, brilhavam absolutos na dublagem:
Ezio Ramos, Marcos Lander, Líbero Miguel, Gastão Malta Waldir Wey,
Sandra Campos, Liria Marçal e muitos outros. Fica deles todos por um
lado um orgulho imenso de ter tido o previlégio de observá-los
trabalhando, suas técnicas, respiração, dicção e sobretudo as grandes
interpretações e por outro lado, fica o exemplo de transformar em arte
um ofício tão específico, quanto o da dublagem. Os atores recebem os
textos no exato momento em que vão gravar, vc tem dois minutos para ler o
texto, entende-lo e imprimir no filme a emoção total que a cena pede e
acredite:dublar com brilho e espontaneidade, além de não ser uma tarefa
das mais fáceis, não é pra qualquer um não. È preciso muito talento e
reflexo para que o público, se esqueça de que o filme foi dublado.
Quando nosso trabalho desaparece mais completamente, é aí que ele passa à
existir de fato e a cumprir sua missão maior que é: divertir e fazer
sonhar.
Quem são os seus "ídolos" na dublagem?
Borges
de Barros (pelo inesquecível Dr Zachari Smith de Perdidos no Espaço),
Helena Samara, Gessy Fonseca e Isaura Gomes.
Além da
dublagem você faz teatro, como você consegue equilibrar" o seu tempo com
as duas atividades?
Não é fácil não. Tenho que fazer um
verdadeiro malabarismo. Ainda bem que conto com a compreenção dos
empresários da Vox Mundi,( o estúdio onde dirijo) e consigo adaptar os
meus horários e trabalhar nas duas áreas.
Você tem
preferência por algum tipo de produção: série, desenho, novela, filme,
documentário... ?
Gosto muito de desenho (apesar de achar
mais difícil a execução, é mais divertido pra se dublar) e adoro fazer
filme com bons roteiros e principalmente bons atores. O desafio de
construir só no timbre vocal, um personagem que foi interpretado por
outro ator, é o que faz dessa carreira um desafio constante e uma busca
de aprimoramento incessante e diária.
Qual é a sensação
de dirigir grandes dubladores que antes te dirigiam?
A
sensação é de aprendizado sempre. Ouço as sugestões que eles propõem e
aprendo muito com eles, afinal, eles já brilhavam nesta área enquanto,
eu menino, assistia extasiado as interpretações deles, lá no interior
das Minas Gerais. Quando um ator pressupõe que já não há mais nada para
aprender, este ator está morto para o ofício.
O Hyoga com
certeza é um dos seus personagens mais marcantes, como é dublá-lo?
Percebí
com o tempo que o Cavaleiro de Cisne, é diferente de seus pares. Hyoga,
ao meu ver, é o mais retraído dos Cavaleiros. Ele tem uma ligação muito
forte com a Mãe ( que ele viu falecer), com seu Mestre Camus, com Atena
e com seus amigos cavaleiros. O sentimento dele está sempre muito
ligado ao passado e aos valores que ele à duras penas e muito gelo,
aprendeu a respeitar. Ele prefere o anonimato. Mas quando se trata de
defender o que ele acredita, ele só enxerga uma única coisa na frente : A
Vitória. È um obstinado. Imprimi um tom de voz mais calmo e doce para
que ele, pudesse mostrar que sua atenção está voltada para dentro ,
diferente das versões oriental e latina, onde o tom heróico se sobrepõe
todo o tempo.
Quais são as maiores dificuldades em se
dublar tokusatsus?
A língua. O japones é muito diferente do
português, além do que, eles são muito expressivos e balançam muito a
cabeça. Então além de sincronizar e dublar os lábios, temos que cuidar
das sílabas tônicas, para que coincidam com os movimentos vibrantes que
eles fazem com as cabeças. E além de tudo, tornar crível para quem está
assistindo. No fim é tudo muito divertido.
Prefere
dublar vilões ou mocinhos?
Os vilões sem dúvida. Os
mocinhos são muito previsíveis. Admirados, mas previsíveis.
Como
foi dublar o filme O Segredo de Brokeback Mountain, ums dos filmes mais
comentados nos últimos tempos?
Fui escolhido pelo ator e
tbem diretor Carlos Silveira para protagonizar este filme ao lado de
Alfredo Rolo.Eu já havia assistido ao filme e fiquei bem impressionado
com o trabalho dos dois atores. Acho que a polêmica aconteceu muito pelo
fato de ser o tema sobre a homossexualidade ainda tabu. Ang Lee, o
diretor,conseguiu um resultado bastante sensível, mostrando uma história
que na verdade trata sobre a falta de comunicação, é um filme belíssimo
sobre o silencio. A questão da homossexualidade, ao meu ver, fica em
segundo plano. O universo sobre o desejo reprimido e a incapacidade
para se lidar com o amor, fazem deste filme, quase uma alegoria sobre o
amor silencioso e não menos doloroso e não menos amor.
Quando fui
dublar, tudo isto estava na minha cabeça, e deveria transparecer em
cada fala, em cada palavra e sobre tudo na falta delas.
Qual
sua opinião sobre o "Boom" que a dublagem causou nesses últimos anos em
que várias pessoas querem ser dubladores (as)?
Acho
interesante. A arte de interpretar, seja em que veículo que for, é
sempre vista com um certo olhar glamouroso. Acho importante que as
pessoas comecem a ver a dublagem sem preconceito e com ouvidos mais
atentos, há muita gente talentosa por traz dos rostos conhecidos e
desconhecidos do cinema mundial. Só não devemos nos esquecer, de que é
preciso antes de mais nada, que o interessado, faça um curso de
interpretação e que se profissionalize. Procure uma boa escola para
atores e se instrumentalize. Não adianta fazer curso de dublagem se vc
não é ator, porque não poderá ingressar na carreira até que tenha um
registro profissional de ator. Há muitos cursinhos de dublagem
espalhados por aí, que são verdadeiros caça níqueis. Procure um curso em
que atuem profissionais idoneos e sérios, que estejam interessados em
formar atores em dublagem e não só em ganhar algum dinheiro. Está cheio
de cursinhos-arapucas por aí. Escolham com cuidado e se informem, sobre
por exemplo, quem leciona nestes cursos. Não basta somente que o
professor seja um dublador, mas sobretudo, que ele conheça de fato a
profissão e que tenha capacidade para passar o conhecimento que possui.
Qual
sua opinião sobre essa nova geração de dubladores que entram no meio
muito cedo?
Eu sou sempre a favor da renovação. È fato que
alguns pais, as vezes até contra a vontade do filho, forçam a criança a
fazer dublagem. E se ela não tiver vontade ou talento, é pura perda de
tempo. vai estressar a criança, o diretor e o resultado será
descartável. È preciso muita persistencia, para quem de fato quer
ingressar na profissão.
O que você acha das pessoas que
dizem que "odeiam" a dublagem?
Vivemos em uma democracia e
acho além de justo, bem saudavel que as pessoas possam dizer o que
pensam à respeito disso ou daquilo. O que me parece uma idiotice, é uma
certa campanha, contra a dublagem. Em qualquer pais do mundo a dublagem
existe e é, em graus diferentes, muito bem aceita. Convivemos com a
dublagem desde que a televisão foi criada. E a maioria dos detratores de
dublagem, cresceram ouvindo a língua mãe na boca de Elizabeth Taylor,
Rocky Hudson, Doris Day, Fred Aster, Judy Garland, Popeye, Picapau, Fred
Flinstone, etc. Vc consegue conceber o Zé Colmeia falando em outra
língua que não seja a nossa? Tanto é assim, que quando tróca-se uma voz,
imediatamente o público rejeita e reclama. Vivemos num país com um
grande número de jovens e idosos, que não conseguem acompanhar a
velocidade das legendas, e os que conseguem tem uma tradução reduzida do
que é dito na tela. Isso sem falar no número estarrecedor de
analfabetos e de deficientes visuais. E já que vivemos em uma
democracia, os puristas podem apertar a tecla SAP e ouvir na versão
original, não é simples? È claro que existem filmes mal dublados, vozes
mal escolhidas, atores canastrões dublando etc, mas isto não significa
que todos os filmes são mal dublados, que todos são canastrões. Existem
carros que são verdadeiras carroças, o que não significa que a industria
automobilistica brasileira seja péssima e por isso deveria ser
abolida... Existem filmes ruins, o que não sinifica que Hollywood
deveria ser exterminada do planeta. È só uma questão de bom senso e de
como disse acima: de democracia.
Qual sua opinião sobre
famosos dublando?
Não vejo problema nenhum, contanto que
seja um bom ator e que domine esta linguagem específica da arte de
representar. Geralmente um bom ator irá se tornar um bom dublador, num
prazo mínimo de tres anos ou mais, isto é, se dublar com frequencia. O
que não dá pra engolir, é as distribuidoras acharem que só porque tem
uma girafa engraçada, chamarem aquela codiante sem graça que nunca
entrou em um estudio de dublagem na vida, porque acreditam que a
presença dela irá fazer aumentar a bilheteria. O resultado é que
geralmente se vê: dublagens de péssima qualidade, com atores que já são
sofríveis na televisão, se tornando mais sofriveis ainda nas telas e só
estão lá por que são famosos e alguns nem atores são, como foi o caso da
turma do Pânico que andou dublando filmes por aí. Cada macaco no seu
galho, ainda que todos gostem de bananas. Se tiver talento e for ator,
nada contra, o sol nasceu pra todos e a dublagem tbem. Quem tem
competência que se estableça.
- Você conhece a dublagem carioca?
Na sua opinião tem alguma "rivalidade" entre os 2 estados?
Sou da
mesma opinião que Chico Buarque (o carioca mais paulistano de todos):
Discutir quem é melhor entre os dois estados é de uma pobreza
acachapante. Tem dubladores bons e ruins dos dois lados. Tem muito
paulista dublando há anos no Rio de Janeiro e muitos cariocas dublando
aqui em São Paulo. No meu entender, quanto menos sotaque a dublagem
tiver, melhor para os espectadores. Acho uma chatice o "Caraca mermão"
dos cariocas, como tambem o "entendeeendo" italianado dos paulistas. A
dublagem deve ser "branca", para se usar um expressão de dublagem. Ela
tem que ser brasileira, com dicção e interpretações irrepreensíveis, o
resto é conversa de porta de botequim. Abaixo o bairrismo, somos
brasileiros e ponto!!
Você prefere a dublagem atual que
se grava as falas sozinho ou como antes que era feita em grupo na
bancada?
È mais funcional e mais produtivo se dublar
sozinho, mas eu achava mais divertido dublar com os colegas. Vc podia
sentir o calor da interpretação do colega e contracenar com ele, mas
leva mais tempo.
Qual a sua opinião sobre o mercado
atualmente em que tudo é feito em ritmo rápido sem um acompanhamento
mais profundo nas produções?
Lamentável. Sinal dos tempos.
Mas alguns estudios já estão despertando para o fato de que é preciso um
esmero maior na execução do trabalho. Porque assim se tem mais
qualidade, diretores mais atentos á interpretação e uma clientela e
público mais satisfeitos. Não se pode e não se deve abrir mão da
qualidade final do produto. Os equipamentos hoje em dia são
ultra-rápidos, desta forma teóricamente sobra mais tempo, para se exigir
um esmero maior dos profissionais que trabalham com dublagem.
Já
reconheceram sua voz na rua? teve algum caso interessante.
Já
reconheceram sim.. principalmente no teatro. As pessoa sentem que já
ouviram aquela voz em algum lugar mas não conseguem definir exatamente
aonde. è engraçado.Mas uma vez fui comprar um produto numa loja e a
menina do caixa, parou a fila pra tentar descobrir os personagens que eu
fiz, as séries.. O pessoal atráz de mim, não estavam entendendo nada.
-
E como é receber tanto carinho dos seus fãs pela internet? Algum fã já
fez uma loucura por você?
Pra falar a verdade acho que a melhor
coisa da profissão, é ter seu trabalho reconhecido por tantas pessoas. E
no caso da dublagem mais ainda, uma vez que nossos rostos não são muito
conhecidos. Adoro este contato e procuro sempre receber meus fãs com o
mesmo carinho com que eles recebem o meu trabalho. Acho muito importante
saber que fiz parte da infância de milhares de brasileiros e contribuí
de alguma forma com um pouco de alegria, aventura, emoções e sobretudo
com a capacidade de reiventar a vida, que cada um deles teve que
aprender.Loucura de fãs? Além dos inúmeros desenhos, quadros, discos,
poemas e carinho que recebo deles, tenho uma fã que me liga duas vezes
por dia do Rio de Janeiro há 10 anos, loucura né não?
Você
tem algum hobby quando tem tempo livre?
Gosto de ir ao
cinema e ao teatro. E como bom mineiro, adoro praia tbem e sempre que
posso, vou tomar um banho de mar.
Você já fez uma viagem
inesquecível? Para onde?
Já fui algumas vezes para Conceição
de Ibitipoca, em Minas.Tem um parque ambiental lá que é maravilhoso.
Andar na chuva, em silencio, durante tres horas e subindo um morro, é
uma experiencia reveladora.
Deixe o seu conselho pra
quem quer se tornar dublador!
Estude, dedique-se à aprender a
arte de representar. Não desista dos seus sonhos, considere cada
barreira como um convite à uma dedicação cada vez maior. A vida é feita
de sonhos, quem não os tem, está com a alma aposentada!
E
Para finalizar, Dê seu recado a todos seus fãs aqui do Dublanet!
Tenho
vcs todos como grandes amigos queridos, que estão do outro lado do
microfone. Saibam que faço meu trabalho, sempre procurando realizá-lo da
melhor forma possível. È sempre bom conhece-los. Vcs são a razão do meu
ofício. Um grande abraço a todos e que possamos nos conhecer um dia!
Muito
obrigado pelo grande carinho com que me tratam e acompanham o meu
trabalho.
Todos os créditos da entrevista para o fórum dublanet: http://www.dublanet.com.br/
10 de mar. de 2010
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